Mensagem do mês

"Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração" (Milton Nascimento)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Literatura na Idade Média

 Reis, castelos, nobres cavaleiros lutando em torneios para merecer atenção de formosas damas são alguns dos elementos que compõem certa representação da Idade Média.
Essa imagem foi em parte construída com base nos textos dos trovadores e das novelas de cavalaria. Eles divulgaram os ideais de um comportamento cortês que se tornou um modelo até hoje explorado pela literatura ocidental.
                           
A IDADE MÉDIA: entre o mosteiro e a corte
A Idade Média tem início com a conquista de Roma pelos comandantes germânicos, ano de 476 (Século V) e termina com a queda de Constantinopla, tomada pelos turcos em 1453.

Heranças do período:
Ø  Cristianismo;
Ø  Crescimento rápido da Igreja Católica;
Ø  Acúmulo de riquezas por parte da Igreja;
Ø  Poder religioso torna-se secular;
Ø  Visão de mundo teocêntrica;
Ø  Religião e cultura eram inseparáveis.
                                    
                                       O TROVADORISMO: POESIA E CORTESIA
No século XII, o período das grandes invasões na Europa havia passado e isso permitiu o ressurgimento das cidades, o progresso econômico e o intercâmbio cultural. Os cavaleiros viram-se de uma hora para a outra sem função social e era preciso criar para eles um novo papel.
A solução desse quadro veio com a idealização de um código de comportamento amoroso ficou conhecido como amor cortês. Quem o idealizou foi Guilherme IX, nobre e senhor de um dos mais poderosos feudos da Europa. Esse código transferia a relação de vassalagem entre cavaleiros e senhores feudais para o louvor às damas da sociedade.                                                         


                                                Cantiga de Amor
Quem fala no poema é um homem, que se dirige a uma mulher da nobreza, geralmente casada, o amor se torna tema central do texto poético. Esse amor s e torna impraticável pela situação da mulher. Segundo o homem, sua amada seria a perfeição e incomparável a nenhuma outra. O homem sofre interiormente, coloca-se em posição de servo da mulher amada, ele cultiva esse amor em segredo, sem revelar o nome da amada já que o homem é proibido de falar diretamente sobre seus sentimentos por ela (de acordo com as regras do amor cortês), que nem sabe dos sentimentos amorosos do trovador. Nesse tipo de cantiga há presença de refrão que insiste na idéia central, o enamorado não acha palavras muito variadas, tão intenso e maciço é o sofrimento que o tortura.

                                           Cantiga de Amigo
O trovador coloca como personagem central uma mulher de classe popular, procurando expressar o sentimento feminino através de tristes situações da vida amorosa das donzelas. Pela boca do trovador, ela canta a ausência do amigo (amado ou namorado) e desabafa o desgosto de amar e ser abandonada, em razão da guerra ou de outra mulher. Neste tipo de poema, a moça conversa e desabafa seus sentimentos de amor com a mãe, as amigas, as árvores, as fontes, o mar, os rios etc. É de caráter narrativo e descritivo e constituem um vivo retrato da vida campestre e do cotidiano das aldeias medievais da região.
                                               Cantigas de escárnio e de maldizer
Esse tipo de cantiga procurava ridicularizar pessoas e costumes da época com produção satírica e maliciosa.
As cantigas de escárnio são criticas, utilizando de sarcasmo e ironia, feitas de modo indireto, algumas usam palavras de duplo sentido, para que não entenda-se o sentido real.
As de maldizer utilizam uma linguagem mais vulgar, referindo-se diretamente a suas personagens, com agressividade e com duras palavras, que querem dizer mal e não haverá outro modo de interpretar.
Os temas centrais destas cantigas são as disputas políticas, as questões e ironias que os trovadores se lançam mutuamente.


Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós
Esta cantiga de Paio Soares de Taveirós é considerada o mais antigo texto escrito em galego-português: 1189 ou 1198, portanto fins do século XII. Uns a tomam por cantiga de amor; outros por de escárnio. Estaria completa? Segundo consta, foi dedicado a D. Maria Paes Ribeiro - apelidada "A Ribeirinha", amante do rei D. Sancho I - e pertence a uma coleção de textos arcaicos denominada Cancioneiro da Ajuda.



"No mundo nom me sei parelha,
 mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vos - e ai
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "

"E, mia senhor, des aquel di' , ai! 
me foi a mim muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós ouve nem ei
valia d'ua correa".

Tradução:

No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha vida continuar como vai
porque morro por ti e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que eu vos descreva (retrate)
quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima)
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela).

E, minha senhora, desde aquele dia, ai
tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas)
pois eu, minha senhora,
como mimo (ou prova de amor)
de vós nunca recebi
algo, mesmo que sem valor.

Cantiga de amigo de Martim Codax (paralelística)

Paráfrase

Ondas do mar de Vigo
Se vires meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!

Ondas do mar revolto,
Se vires o meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!

Se vires meu namorado,
Aquele por quem eu suspiro!
Por Deus, (digam) se virá cedo!

Se vires meu namorado
Por quem tenho grande temor!
Por Deus, (digam) se virá cedo!


Essa cantiga é de amigo, e mostra que a mulher espera ansiosamente pelo amigo, visa bastante às ondas do mar de Vigo e sobre o regresso de seu amado.


As cantigas de escárnio utilizam sátiras indiretas para atingir a pessoa satirizada. Faz-se o uso de ironias e expressões de duplo sentido, e o objetivo é nunca ser identificado, como neste exemplo de cantiga de autoria de Pero Gargia Burgalés :
Rei queimado morreu con amor
Em seus cantares, por Santa Maria
por una dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lh'ela non quis [o] benfazer
fez-s'el en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...

Tradução:
Rei queimado morreu com amor.
Em seus cantares, por Santa Maria
por uma senhora a quem amava
e por aparecer um melhor trovador,
porque lhe ela não lhe quis bem-fazer
fez-se ele em seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao terceiro dia! ...


                                         Cantigas de maldizer
O uso de expressões de baixo calão é frequente, com a clara intenção de difamar o satirizado, como na cantiga de João Garcia de Guilharde:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louveei-[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sentiria!...
(...)que morte, mais mortal .


 


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